Avaliação da Pressão Arterial em Gestantes

Informações e diretrizes para o manejo da HAS na gravidez

Classificação da Hipertensão na Gestação

Classificação da Hipertensão na Gestação
Antes das 20 semanas Depois das 20 semanas
Hipertensão Crônica (HASC) Hipertensão Gestacional (HASG) Pré-eclâmpsia Pré-eclâmpsia sobreposta à HASC

💡 O diagnóstico de hipertensão na gestação requer duas medidas de PA elevadas (≥ 140/90 mmHg) com intervalo ≥ 4 horas ou história de hipertensão arterial sistêmica prévia.

Classificação da Pré-eclâmpsia

Comparação de Pré-eclâmpsia com e sem sinais/sintomas de deterioração clínica/laboratorial
PE com sinais/sintomas de deterioração clínica/laboratorial PE sem sinais/sintomas de deterioração clínica/laboratorial
  • Crise hipertensiva *
  • Sinais de Iminência de Eclâmpsia **
  • Eclâmpsia (Convulsões tônico-clônicas)
  • Sineclâmpsia (Rebaixamento do nível de consciência)
  • Síndrome HELLP ***
  • Outros: Oligúria, IRA, Dor torácica ou Edema Pulmonar
Sem critérios para PE com sinais/sintomas de deterioração clínica/laboratorial
* Crise Hipertensiva

Definição: PAS ≥ 160 mmHg OU PAD ≥ 110 mmHg.

** Sinais de Iminência de Eclâmpsia
  • Cefaleia forte e/ou persistente.
  • Sintomas visuais (escotomas, fotofobia, visão borrada, ou cegueira temporária).
  • Dor epigástrica retroesternal.
*** Síndrome HELLP

(Deve ter todos os critérios)

  • Hemólise: DHL ≥ 600 UI/L ou > 2x VR do laboratório, haptoglobina < 25 mg/dL, Hb ≤ 8g/dL, BI ≥ 1,2 mg/dL ou esquizócitos/equinócitos em sangue periférico.
  • Comprometimento hepático: AST e/ou ALT ≥ 70 UI/L ou > 2x o VR do laboratório.
  • Plaquetopenia: Plaquetas < 100.000/mm3 (quedas > 20% devem ser interpretadas com cautela ainda que não atinjam níveis < 100.000/mm3).
💡 Prurido intenso, náuseas, vômitos e/ou dor abdominal (principalmente em hipocôndrio direito), devem chamar atenção para possibilidade de síndrome HELLP. Embora raro, esta síndrome pode se manifestar apenas com sintomatologia sem hipertensão ou mesmo proteinúria.

Fatores de Risco para Pré-eclâmpsia e Profilaxia

Fatores de Risco para Pré-eclâmpsia
Fatores de Alto Risco Fatores de Baixo Risco

Iniciar profilaxia:

AAS 100mg/dia à noite entre 12-20 semanas (ideal entre 12-16) → Interromper com 36 semanas OU se surgimento de PE.

Seguimento

Internação e Controle

  • A internação é recomendada quando houver suspeita ou confirmação de pré-eclâmpsia.
  • O internamento visa principalmente avaliar condições maternofetais e realizar o controle pressórico.
  • A pré-eclâmpsia necessita de acompanhamento com exames laboratoriais para identificação precoce de complicações.

Seguimento Laboratorial

  • Hemograma
  • DHL (Desidrogenase láctica)
  • Bilirrubinas totais ou Haptoglobina
  • Creatinina
  • Transaminase oxalacética (TGO)

💡 A frequência depende de cada caso, recomendando-se sua execução, de maneira geral, uma vez por semana.

Recomendações para HASC e Pré-eclâmpsia

Aspecto HASC Pré-eclâmpsia
Dieta Consumo diário de sódio < 2g/dia Dieta normal (sem restrição de sal)
Atividade Física Exercício aeróbico de baixo impacto 3-4x/semana (30-60 min/sessão) A redução da atividade física pode ser recomendada, mas o repouso absoluto é contraindicado

Conduta Farmacológica (Anti-hipertensivos)

Medicação Dose e Frequência Considerações
Metildopa 750 mg a 2g/dia, 2 a 4x/dia Simpatolítico de Ação Central. Considerada de primeira escolha na maioria dos casos. Causa sonolência, sedação e vertigem. Hepatotoxicidade é rara.
Clonidina 0,2 a 0,6 mg/dia, 2 a 3x/dia Simpatolítico de Ação Central. Alternativa à metildopa. Risco de hipertensão rebote se suspensa abruptamente.
Nifedipino Retard 20 a 120 mg/dia, 1 a 3x/dia Bloqueador de Canais de Cálcio. Evitar a formulação de liberação imediata (cápsula sublingual) para evitar hipotensão súbita e risco de hipoperfusão placentária.
Anlodipino 5 a 20 mg/dia, 1 a 2x/dia Bloqueador de Canais de Cálcio. Pode ser usado como alternativa ao nifedipino.
Metoprolol* 100 a 200 mg/dia, 1 a 2x/dia Betabloqueador. Evitar em pacientes com asma, broncoespasmo ou insuficiência cardíaca. Pode causar bradicardia.
Carvedilol* 12,5 a 50 mg/dia, 1 a 2x/dia Betabloqueador. Evitar em pacientes com asma ou insuficiência cardíaca. Pode causar hipotensão postural.
Hidralazina* 50 a 150 mg/dia, 2x/dia Vasodilatador Periférico. Geralmente usado em crises hipertensivas ou como terceiro fármaco. Pode causar taquicardia reflexa e cefaleia.

💡 *Como 3° fármaco para associação de medicamentos ou no caso de impossibilidade de uso das drogas de primeira escolha.

Medicações Contraindicadas na Gestação

  • Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA)
  • Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA II)
  • Inibidores diretos da renina (alisquireno)

Resolução da Gravidez

Momento da Interrupção
Condição Momento
HASG A partir da 37ª semana
HASC leve (PAD < 100mmHg) 39 semanas
HASC moderada (PAD < 110mmHg) 38 semanas
HASC grave (PAD ≥ 110 ou PAS ≥ 160) 37 semanas ou a partir de 34 semanas se difícil controle
PE SEM SINAIS Expectante até a 37ª semana
PE COM SINAIS
  • < 23 semanas: Interrupção da gestação
  • 23-34 semanas: Interrupção** ou internação para vigilância intensiva
  • 34-37 semanas: Interrupção** ou internação para vigilância intensiva (expectante até 37 sem)

💡 **Interrupção: Síndrome HELLP, eclâmpsia ou sineclâmpsia, descolamento prematuro de placenta, hipertensão refratária ao tratamento com 3 fármacos, edema pulmonar, comprometimento cardíaco, alterações laboratoratorias progressivas (plaquetas - transaminases- dhl), insuficiência renal progressiva (elevação de uréia - creatinina - anasarca- oligúria) ou alterações na vitalidade fetal.

Vias de Parto

Parto Vaginal Parto Cesáreo
  • Vitalidade fetal preservada
  • Estabilidade materna (clínica ou laboratorial)
  • Comprometimento da vitalidade fetal
  • Instabilidade materna (clínica e laboratorial)
  • Sangramento espontâneo
  • Hipertensão de difícil controle

Recomenda-se o quadro acima, no entanto, destaca-se a avaliação caso a caso e a decisão compartilhada com a gestante e seus familiares.

Conduta no Puerpério

Conduta Detalhes
Monitoramento da PA Verificar a cada 4 h. Manter a PA abaixo de 140/90 mmHg.
Conduta no Puerpério Imediato (até 10 dias) 💡 Reduzir dose ou suspender o medicamento se PA < 110/70 mmHg ou se mantiver consistentemente < 140/90 mmHg.
PE sem sinais
  • Acompanhamento de rotina na atenção primária.
  • Aferir pressão a cada 1-3 dias em pacientes que recebem alta com medicação anti-hipertensiva.
  • Suspender medicação se PA consistentemente < 120/80 mmHg.
PE com sinais
  • Acompanhamento em serviços secundários ou terciários.
  • Manter medicação para manter PA < 160/110 mmHg (preferencialmente < 140/90 mmHg em mulheres de maior risco).

💡 Evitar bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA) e clonidina durante a amamentação.